domingo, 1 de outubro de 2017

"Estudanta"


Pronto, então parece que finalmente, no início de Outubro, começa a primavera nos lados de cá. depois das chuvas, é sempre bom prestar atenção no caminho, pois os pássaros estão voltando. E no nosso trajeto casa-escola-casa, como ainda há umas áreas com pequenas chácaras lá por trás do IBN, sempre avistamos pássaros bem bonitos: bem-te-vis, anuns, lavandeiras, garrichas e um pássaro azul e preto, que não sei o nome. Infelizmente, na área da nossa casa quem mandam são os pardais. Eles só perderam a majestade quando uma família de gaviões fez um ninho numa árvore do quintal da vizinha da frente. Deram para mundo o mundo e só voltaram quando os gaviões se mudaram. Acho que os bebês cresceram e foram cantar noutra freguesia. O tempo passa para todos.

Nessa brincadeira, andei fazendo umas contas: não é que a minha graduação em Geografia completa 21 anos em 2017? Alcançando a maioridade, imagino o quanto a ciência do espaço mudou em duas décadas. Hoje em dia, as coisas são muito rápidas, embora tenhamos que ter paciência para que algumas inovações tecnológicas cheguem em nosso cotidiano. Outro dia, o Prof. Otto Benar partilhou no Facebook este filme do Amazon Go:
  

Fiquei tão impressionada com esse sistema! tão tecnológico, tão independente, e tão responsável. Depois, Mahria partilhou-me também, e ainda ontem mandou-me um vídeo semelhante, de um empresa oriental. Ontem, Gustavo mandou esse video da Amazon para o grupo Imprensa AESGA, quando discutíamos o trabalho na pós-modernidade. Pelo que vemos, a cada dia que passa, as tecnologias podem mudar o nosso dia-a-dia, facilitando tarefas repetitivas em enfadonhas.  O mercado de trabalho é dinâmico e também reflete essas mudanças. Há inúmeros casos de trabalhadores que perdem seus postos de trabalho por conta da evolução tecnológica. Eu mesma já passei por isso! talvez vocês não saibam, mas o meu primeiro emprego foi numa Rádio. Trabalhei por dois anos na Rádio Marano, em Garanhuns. Na minha carteira de trabalho consta o registro de "auxiliar de escritório" (mais genérico, impossível). Passava minhas oito horas diárias atendendo telefones e anotando as mensagens dos apaixonados do Rádio Toque. Ô coisinha brega! Mas, na época, início dos anos 1990, era um sucesso na cidade e na região. Também era responsável por datilografar as programações. Ronaldo selecionava as músicas em blocos de cinco (geralmente quatro nacionais e uma internacional), em um monte de disco de vinil, e eu datilografava a "playlist" em duas vias: uma ia para o estúdio e a outra ficava na pasta para a inspeção do ECAD (Direitos Autorais).  Pois bem, vejam as rádios hoje: tudo informatizado, programação digital, mensagens via waths app. Certamente não existe mais a telefonista nem a moça que "batia" a programação. O tempo passa e as coisas mudam.

Pois bem, durante sete anos fiz as provas de Geografia do Vestibular da AESGA. Ao todo, foram 14 provas, e obtive até um bom resultado: das 140 questões inéditas, forjadas no meu juízo (assava até uma semana pensando nas questões e uma semana construindo-as, um trabalho minucioso), apenas uma questão foi anulada por erro meu. Contudo, as coisas mudaram e as provas tipo ENEM tornaram-se o modelo a ser seguido, e vamos considerar que é bem complicado ser multidisciplinar quando o sistema insiste em ser disciplinar. Então, chegou um momento que já estava me repetindo e pedi baixa da função: a última prova parecia um dinossauro falando.

Voltei inquieta do 6º Congresso Íbero Americano de Análise Qualitativa. Ouvi muito sobre educação e decidi experimentar uma coisa nova. Quem tal enfrentar um curso em EaD para, como cliente conhecer melhor antes de criticar? Decidi por um curso de Licenciatura em Pedagogia, ofertado no modelo semi-presencial pela UNOPAR, cujo polo de Garanhuns é administrado por professores amigos. No dia 27 de agosto, num domingo de manhã, Tony me deixou no prédio da antiga Bhrama, onde atualmente funciona a Universidade. Esperamos um bocado na guarita da frente, até que nos liberaram para entrar no prédio, éramos uns 70 candidatos para os mais diversos cursos. Fizemos uma redação e aguardamos o resultado através do portal da instituição. No dia 30.08 avisaram aos aprovados e daí, ao processo de matrícula. Tive que contar com a eficiência de Ivania, da Secretaria de Educação para encontrar a minha ficha 19, pois fiz o nível médio (no tempo eram "Estudos Gerais") no Colégio Municipal Padre Agobar Valença, que já é extinto. 

As aulas começaram no dia 14 de setembro no 1º período Flex, pois o grupo em que entrei já está no segundo semestre. Vou lá toda quinta-feira, onde temos um primeiro momento com o professor (gravado) e o segundo momento com a tutora local, uma garota bem novinha, de voz aguda. A sala tem mais de 50 alunas e, se não me engano, apenas três caras. A maioria do pessoal vem das cidades vizinhas em ônibus escolares financiados pelo FNDE. O material na plataforma é muito bom: vemos os vídeos, lemos os textos, fazemos as atividades online e vemos essas aulas.   Na última quinta-feira foi a prova de Políticas Públicas da Educação, e as minhas colegas (que me desculpem os caras, mas as meninas são maioria) estavam mais barulhentas do que sempre. Fico quieta no meu canto, observando as figuras, aprendendo e apreendendo a situação. Até agora, me sinto meio como Perry, o Ornitorrinco, meio agente secreto, disfarçada de "estudanta", torcendo para que minha formação avançada não seja um obstáculo à convivência.

Então, voltei aos bancos escolares.   Na Faculdade, disse a Profa. Rosa Antunes da minha nova condição. Ela, pedagoga da velha guarda, aposentada da UPE, com 50 anos de educação, ficou tão satisfeita que, no outro dia, forçou o filho a abrir os baús e trazer de casa esses livros para me ajudar, que já estão devidamente acomodados na minha estante: 



Fiquei muito feliz, pois é a minha parte na herança da velha. Ela, que tem me ensinado tanto, confiou-me parte dos livros, e sempre vem conversar sobre temas da pedagogia, às vezes até esquecendo que eu não sou propriamente uma debutante na educação. Vou vivendo um módulo de cada vez e aprendendo coisas novas.Neste último módulo, estudamos as políticas e o financiamento da educação brasileira, e foi muito interessante saber que muito foi idealizado, mas, que ainda há um abismo entre a teoria e a prática. Nesse aspecto, nada mudou. Resta a esperança, pois no grupo, apesar de heterogêneo, há algumas jovens com carinhas de menina, e, não sou eu que irei promover o choque de realidade. Que o cotidiano se encarregue disso, da forma mais suave possível.

Fiquem com Deus. 




Um comentário:

  1. ... E o passado é uma roupa que não nos serve mais... Viva a modernidade consciente!

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