domingo, 17 de setembro de 2017

Taxi X Uber


Finalmente, parece que em Garanhuns começou a confusão entre táxis e ubers. Cada um que queria defender a sua parcela do mercado. Para mim, nada pode ser mais saudável que a concorrência, embora os taxistas reclamem que com o Uber a concorrência é desleal. E eles devem ter lá os seus motivos. Cada um tenta defender o seu, e, tenho certeza, apesar de não ser nenhuma especialista, que o mercado de transportes é grande o suficiente para que todos ganhem o seu sustento honestamente.

Em primeira análise, o consumidor sai ganhando porque, com a concorrência, temos mais opções para a prestação de serviços. Nada pode ser mais acachapante ao consumidor do que o monopólio. Temos experiência disso no próprio sistema de transportes públicos de nossa cidade, que há mais tempo do que eu me lembre é dominado por uma única empresa, a do santo. É preciso reconhecer que a do Padre continua operando na linha do Mundaú/João da Mata, mas é uma luta desigual, pois a citada linha é muito reduzida. E quer pagar seus pecados, sem desconto e ainda ficar com direito a uns pecadinhos secundários? pois precise do transporte público no domingo ou feriado. Criamos raízes esperando ônibus para o Mundaú, para o Parque Fênix ou Cohab III. É uma penitência digna de um dos círculos do inferno de Dante. Hoje só uso ônibus eventualmente, mas todas as vezes que preciso, fico pensando naqueles que pagam cinco reais para ir e voltar apenas uma vez por dia, do trabalho para casa. A dependência é cruel. 

Então, com a possibilidade do Uber, a concorrência se acirra e nos dá opções, porque o trânsito já contribui significativamente com sua parcela ao suplício urbano. Trata-se de uma empresa multinacional norte-americana, que opera nas ruas das grandes e médias cidades do mundo inteiro. Criada em 2009, enquadra-se no novo modelo empresarial de empresas "onipresente". Ou seja, é hoje a maior empresa de transporte urbano do mundo, mas que não possui um único carro. O que faz a empresa "rodar" é um aplicativo desenvolvido na Califórnia, que inscreve carros particulares para "caronas remuneradas". Ou seja, o sujeito que tem um carrinho mais arrumadinho se inscreve no app. O consumidor acessa ao app e pede um transporte, com origem e destino bem definidos. O app direciona a solicitação aos motoristas inscritos, e quem está mais próximo, atende a chamada. Um percentual do serviço fica para a empresa e o restante para o motorista. 

O que irrita os taxistas é a ausência de impostos e inscrições a que estes estão sujeitos, além de redução no número de clientes potenciais. É bem verdade que os amigos taxistas (a maior parte deles) precisavam de um choque de realidade para perceberem o quanto precisam melhorar na prestação do serviço. Quem nunca se estressou no trânsito com um taxista apressadinho que atire a primeira pedra. Pode perceber: os danados desconhecem a seta e buzinam desesperadamente quando o sinal mudou para o verde há apenas 3 segundos. Têm direito a estacionamento privilegiado e ainda se dão o direito de não aceitar a corrida, justificando que o destino é perto e não vale a pena sair da "fila" por tão pouco. Isso aconteceu comigo outro dia no Recife: queria ir do Aeroporto ao Shopping Center Recife e nenhum taxista quis me transportar. Tive que ir para a avenida Barão de Sousa Leão e ficar arriscando um táxi que viesse passando pela via. Isso me custou uns bons 15 minutos sob um sol escaldante das 13 horas e sendo alvo móvel para os ladrões. 

Apesar de muitos cometerem falhas na prestação do serviço, há taxistas de que são verdadeiros companheiros de trabalho, embaixadores culturais de seus países, amigos, e até mesmo, anjos. Quando estivemos em Barcelona, ao chegar na estação de trens, tínhamos a opção de ir de metro. Mas, as linhas são tão confusas, e tinha que trocar tanto de estação, que preferi ser rica por um dia e apanhar um táxi. O rapaz que nos atendeu era um jovem de uns 25 anos, magro, alto, de tênis e bermuda. No caminho, ao entrar na Plaza Catalunha, ele já começou a resmungar com o trânsito num espanhol arrastado. Ao entrar na Rambla, um ciclista ia zig-zagueando na nossa frente. Quando emparelhamos, o motorista baixou o vidro, e esculhambou o sujeito em catalão e eu, acompanhei, exclamando: "Estás doido? Quer morrer, peste?!" no mais nordestino português brasileiro, enquanto Luiza dava risada. No destino final, estendi-lhe uma nota de 20 euros para pagar a corrida de 8,50. Com cara súplice, o jovem me perguntou se não tinha "mais pequeno". Fui mexer na minha bolsinha de moedas que Thayze me deu de lembrança de viagem, o moço reconheceu as fitinhas do Senhor do Bonfim, e perguntou, alegre: 

Ele: Is this Bahia?
Eu: Yes, this is Senhor do Bonfim, Bahia.
Ele: I Stayed there  last year! I love Bahia! Do you from Bahia?
Eu: No. We are from Pernambuco, next to Bahia. 

E ficou nosso amigo de infância.      

Outros, se tornam colegas de trabalho. Andamos muito com "Seu" Edvaldo, nos serviços oficiais da Autarquia. Outro dia, fiz parte da banca de qualificação do projeto de mestrado de Virgínia, e lá vai Edvaldo nos levar e me trazer de volta à Garanhuns. São muitas conversas no meio do caminho, mas uma, particularmente me divertiu imenso. O motorista vinha me contando que a filha pequena estava com alguns problemas, e ele, pai atencioso, levou ao Dr. Jurandi, um ícone da pediatria garanhuense. O médico aconselhou-o a arranjar um bichinho de estimação para a garota. Morando em um apartamento, um cão estava fora de cogitação. Como a esposa tem alergia a gatos, a opção foi um coelho, arranjado por um colega de praça. Então, foi uma saga acostumar com o novo morador da casa: o bicho, era pequeno, mas cresceu. Só queria comer couves do Supermercado Bonanza, se o cuidador comprasse a mesma erva na feira, que era mais barato, o coelho fazia greve de fome. Acostumou-se desde cedo a fazer cocô num jornal, e se não tivesse jornal, o peludo ficava entupido por dias. Então, Edvaldo saiu com essa: "Professora, a senhora acredita que eu estou comprando jornal caro para servir de banheiro para o coelho?! Olhe, ninguém merece." Felizmente, a terapia funcionou e a menina ficou boa. Mas, o coelho parece que continua cheio de vontades, pois encontrei Edvaldo na fila do caixa do supermercado com um maço de couves que não tinha tamanho. 

Há taxistas que são anjos, e que quase fazem parte da família. Como agradecer a Seu Cabral, a atenção que ele tinha a Antonio? Um taxista idoso tratando com uma criança autista, e eram melhores amigos. Muitas vezes, Ilma se valeu de Seu Cabral para lidar com o menino. Era um grande ser humano, hoje faz parte da frota de Jesus. E também, morro de orgulho de Márcia, que é a primeira mulher taxista de nossa cidade. Vencendo preconceitos e quebrando barreiras, minha amiga de infância vai mostrando que é possível viver honestamente no volante, on the road para criar as filhas. É uma figura ímpar. 

Entre Táxi e Uber, prefiro os dois. O sol nasce para todos e todo mundo precisa trabalhar para ganhar a vida. E nós, consumidores, estejamos atentos para ter um serviço de transporte cada vez melhor.  

Fiquem com Deus.

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