domingo, 24 de setembro de 2017

Mundo gay


E em Garanhuns, o inverno prossegue. A primavera este ano parece que vai ter que esperar mais um bocadinho para se instalar. Eu mesma já estou perdendo as esperanças de que amanhã teremos um belo dia de sol. E o pior é ter que bater na boca quando se clama por um pouco de calor, pois nesta região do país sofremos imenso com as secas. Nosso maior problema com chuvas tão prolongadas é o bolor que toma conta das construções. Acredito que não há uma só unidade residencial em Garanhuns que não tenha ao menos uma parede mofada. O jeito é investir no anti-alérgico e ir conduzindo da melhor forma. Ainda não arranjamos uma maneira de controlar o tempo, e, creio que viveremos nossa existência sem criar tecnologia para isso.

Nesta semana, fomos surpreendidos com uma decisão judicial que permite aos colegas psicólogos realizar terapias para "reverter" a homossexualidade. O tema ganhou a rede social, e muita gente se posicionou acerca da temática, repercutindo o assunto como "cura gay". Penso que há, neste cenário, uma série de distorções, mas que em todo caso somente dificulta a vida daqueles que decidem assumir e viver sua vida e ser feliz a seu modo. A ala da Igreja pulou na jugular do cordão multicor e daí, a discussão degringolou para a galhofa, seguindo a tradição a melhor brasileira de ser o país da piada pronta. 

Sobre essa discussão, eu tenho um pensamento já bastante solidificado e acredito que a contenda acerca da sexualidade é uma questão ultrapassada. Percebo que tem gente que nasce gay - quem nunca viu um menininho desmunhecado desde cedo? - e tem gente que se torna gay. Qualquer que seja a condição, trata-se de um percusso pessoal, ao qual não cabe interferências. Até porque, minha gente, que diferença faz na nossa vida o que o outro (esteja ele longe ou perto) faz de sua vida emocional/amorosa/sexual? Há um tempo atrás, quando substituía Eliane na Faculdade de Administração, na disciplina de Sociologia, numa turma sui generis (tinha um padre e um homossexual assumido no mesmo grupo!), discutíamos acerca da diversidade e tolerância, daí, inevitavelmente, a discussão rumou para a questão da homossexualidade. O debate pegou fogo quando o padre e umas moças expuseram a sua repulsa gay. A cada crítica, a cada estocada, percebia que o coleguinha gay se afundava um pouco na cadeira, absolutamente constrangido pelo grupo. A certa altura, interferi e pedi a palavra, perguntando: "Minha gente, eu sou gay. Isso faz alguma diferença para vocês?" A turma ficou muda. O padre foi o primeiro a aliviar: "Não professora, que é isso? Todos são filhos de Deus". Pois então, peguei o sacerdote na palavra: "Se todos os seres humanos são filhos de Deus, então, vamos nos respeitar pela humanidade da qual fazemos parte." E acabou-se a conversa. 

Não, eu não sou gay. Mas respeito a opção de quem é, sobretudo admiro a coragem de assumir ser o que é. No início do século, dei aula no PROGRAPE, um curso especial de pedagogia ofertado aos professores da rede pública que não tinham a formação em nível superior. A maioria esmagadora das turmas eram de mulheres. Em Lajedo, tive uma turma que eram 50 mulheres e um gay. Ele mesmo se apresentava assim, e, para mim, aquele aluno era a resistência na sua essência: numa cidade pequena, um professor da zona rural, assumir-se gay e ser aceito pela comunidade é uma grande vitória. E ninguém pense que é fácil marcar posição, principalmente neste tempos bicudos de tanta regressão nas liberdades individuais.

É certo que atualmente é um pouco mais fácil o sujeito tomar o rumo de sua vida, pois o apelo das mídias é grande. Fico observando lá na escola: a quantidade de meninos novos gays é uma coisa impressionante, e para as meninas heterossexuais é uma concorrência acirrada. Digo meninos, pois, por conta dos trejeitos é mais fácil identificar a eles do que a elas. Já não tenho visto mulher gay brucutu. A maioria das moças continuam moças comuns. É tão comum ser gay, que como diria meu cunhado Carlos "Daqui a uns dias, vão apontar-nos na rua e dizer: 'olha, lá vai um homem. Um besta heterossexual'". 

E vamos vivendo. Quando externo a minha opinião sobre o tema, sempre me questionam acerca da minha filha. E eu devolvo a reflexão inicial: como o tempo, não há tecnologia para controlar a sexualidade. O que desejo é que minha filha cresça e se encontre como pessoa, que respeite a humanidade da qual ela  e nós todos fazemos parte, e trabalhe honestamente, contribuindo para que tenhamos um mundo melhor. Que seja uma pessoa feliz, o que é realmente importante, pois gente feliz não cuida na vida alheia.

Fiquem com Deus. 

2 comentários:

  1. Rapaz pense num assunto pra render. Nas escolas em que leciono a turma (discente e docente) só fala nisso, já vi até briga. Eu, particularmente, faço parte da ala que entende a atitude do tal juiz como um retrocesso. O mundo, felizmente, evoluiu nesse sentido, só o magistrado não viu (ou não quis ver). Bjin!

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    1. Pois é, amigo, o mundo anda para trás a passos largos. Já viu como a teoria da Terra Plana ganha adeptos a cada dia? Fico pasma com essas "novas" ideias.

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