segunda-feira, 24 de julho de 2017

No caminho a caminhar: Aveiro

Moliceiros na Ria de Aveiro
Chegamos em Lisboa pelas 11 horas, depois de sete horas e um pouquinho de voo sobre o Atlântico. Até que a passagem pela Linha do Equador não foi muito turbulenta. Apesar disso, não consegui dormir nenhum sono, pois ficamos nas cadeiras do meio da classe econômica, e o espaço exíguo nos incomodava. Luiza ainda encostou a cabeça no meu ombro e tirou uma soneca. Eu, fiquei nos cochilos esparsos. Quando desembarcamos, sempre há aquela tensão de passar pela imigração. Não que tenhamos coisas erradas, mas nem sempre é possível prever as exigências para ser aceito no país dos outros. Passamos batom, alisamos os cabelos da melhor maneira possível para tentar passar uma melhor impressão, apesar da noite insone. Pois, foi engraçado. O inspetor da imigração cumprimentou Luiza em inglês, que prontamente respondeu no mesmo idioma, enquanto apresentávamos nossos passaportes abertos na página das fotos. O sujeito olhou, e perguntou-me se éramos irmãs. Agradeci a gentileza, e expliquei que a jovem era minha filha. Em seguida, perguntou-nos para onde iriamos. Expliquei do congresso em Salamanca, mas que antes iriamos passar o restinho do dia e a noite em Aveiro, só partindo para a Espanha no manhã seguinte. O rapaz passou de oficial de imigração e deu uma de guia turístico: "Ah, vocês irão adorar aquilo lá a essa época do ano! É muito bonito. Hoje já passou por aqui um senhor brasileiro, vai a esse mesmo congresso. Ele é psicólogo. Você é psicóloga?" Expliquei-lhe que sou professora de metodologia de pesquisa, enquanto ele escaneava nossos documentos. devolveu-nos os passaportes recomendando que não deixássemos de procurar "la rana" no frontão da reitoria. Sem entender nada, agradeci, nos despedimos e seguimos. Nunca tive uma recepção tão amigável em Portugal.

Seguimos para Aveiro no comboio das 14h07, depois de comermos nossos pães com chouriço numa lanchonete da Gare do Oriente.  Ao contrário das minhas pesquisas, era um Alfa Pendular que só fazia uma parada em Coimbra B, antes de Aveiro. Melhor assim, pois tive um tempinho de dar um cochilo sem me estressar com a nossa parada. Foi um pouquinho mais caro do que constava no meu planejamento, mas, uma viagem num Alfa Pendular vale a pena, é um trem tão chique! Luiza dormiu as duas horas de viagem, o que ajudou a melhorar o humor da pequena. Para ela,  a viagem a Portugal era um  retorno a infância: muita coisa ela ia lembrando ao longo do caminho. Chegamos em Aveiro pelas 16 e pouco. A pensão que havíamos reservado por 45 Euros ficava bem ao pé da Estação dos Comboios. Após ajeitarmos nossas malas no quarto de um prédio de 1924, saímos para reencontrar a cidade. 

Fizemos uma primeira parada numa quitanda onde comprávamos frutas a caminho dos comboios para um passeio qualquer. Sempre gostei muito dessa lojinha pois a senhora que atende é muito atenciosa, os preços são bons e as frutas, sempre frescas e bem limpinhas. Comprei cerejas frescas e fomos comendo pelo caminho, enquanto conferíamos o que havia mudado. Fomos andando até o Forum, um pequeno shopping que domina parte importante da vida social do centro da cidade e demos um alô para a ria.    

Ria de Aveiro
 O plano era ir ao Ramonas almoçar cachorros-quentes. Essa lanchonete foi um lugar importante para nós, pois, quando saíamos da escola na sexta-feira, e tínhamos algum dinheirinho, era lá que fazíamos o jantar do primeiro dia do final de semana. Às vezes, como diz Luiza, eu estava numa "bad profunda", na fase de conclusão da tese de doutoramento, que não conseguia comer nada, tomava dois copos imensos de suco de laranja com cenoura. Do Ramonas, passamos à frente da Escola da Glória, onde Luiza estudou por dois anos, antes do prédio ser fechado para uma reforma.

Escola da Glória, Aveiro.
Tenho uma imensa gratidão a esta escola, que recebeu tão bem a minha pequena. Aqui ela aprendeu muito, teve a oportunidade de fazer a base de sua educação em uma excelente escola, com professores maravilhosos. 

Da escola, passamos no nosso antigo endereço e fomos ao Parque D. Pedro. Nesse espaço brincamos muito nas intermináveis tardes de verão, compramos kitkat na barraquinha da esquina, demos comida aos peixes do lago e aos pombos.
Eu, na pontezinha da Casa de Chá, Parque D. Pedro, Aveiro
Ponte Pedonal. Liga o Parque D. Pedro a Baixa de Santo Antonio, Aveiro.


 Quando saímos daqui, em 2013. parte do parque estava fechado para reforma. Construíram uma Ponte Pedonal que liga um lado ao outro da Avenida que termina na rotunda do Hospital e da Universidade. Não achei a obra grande coisa, acrescentando pouco a paisagem, mesmo tendo custado uma fortuna. Subimos a rua, passamos pelo Hospital e demos a volta pela passarela que liga a calçada lateral da Escola João Afonso, onde Luiza estudou seu último ano, em razão da reforma da Escola da Glória. No espaço, não há mais nada, somente a base onde foram assentados os prédios provisórios. 

Reitoria da Universidade de Aveiro
Entramos no campus da Universidade de Aveiro. A esta altura nossos pés já doíam imenso, e a esta época, quase não há estudantes no Campus, somente alguns poucos bolsistas e servidores. Sentamos à frente do prédio para descansar um pouco. Percebi que agora há o número e o nome do prédio nas fachadas de vidro. Na época em que eu era aluna novata sofri para identificar os prédios, pois tudo era muito discreto. Nas minhas primeiras semanas, dei muita cabeçada para achar o prédio de Comunicação e Arte. Descemos a rua, passamos pelo prédio que acompanhamos a construção à frente do nosso pequeno apartamento. Atualmente, é um grande edifício, cujo piso térreo é um centro médico, com clínicas diversas. Passamos pelo Largo do Tribunal e descemos pela Rua Belém do Pará, que nós chamamos de Rua do Vento. Há muitas lojas novas, reconheci apenas a ótica que frequentávamos para consertar os óculos de Luiza e algumas pastelarias tradicionais. Entramos por um bequinho que dá no Fórum. A casa abandonada ao lado foi demolida e estão construindo um prédio. Deixei Luiza esperando na frente da Zara (na nossa época era um supermercado Pingo Doce) e fui saber onde tomar o autocarro para Albergaria-à-Velha, próxima etapa da nossa viagem. Na revistaria, a jovem me explicou que agora o ponto era ao pé da Ria, na paragem dos autocarros que vão para  Costa Nova. Beleza. Quase nos arrastando de tanto cansaço, ainda passamos numa loja de doces que há no Fórum para Luiza comprar umas gomas de amoras. Ela comprou isso e mais outras coisas, e, já com calos nos pés, pegamos um táxi na outra avenida, ao pé do Banco Santander. 

Quando chegamos à pensão, já passava das nove da noite, embora a visão da janela do nosso quanto nos mostrasse essa imagem:
Estação dos Comboios, vista da janela do quarto do Alojamento Tricana de Aveiro
No verão, os dias são longos e entram pela noite. Quando fica escuro já passam das 22 horas. Fechamos nossas cortinas e após um banho relaxante, como nos velhos tempos, dividimos a cama de casal do pequeno quarto. 

O ventinho frio da cidade litorânea nos avisava que o dia posterior seria ensolarado, mas, que, como sempre, começaria nublado e friorento. Fomos dormir, agradecendo a Deus a oportunidade de ter vivido nesta cidade pequena, mas cosmopolita, que sabe respeitar as diferenças culturais e recebe carinhosamente a todos que chegam em busca de conhecimento. É muito bom poder voltar a uma cidade querida e perceber seus progressos e suas permanências, lembrando histórias engraçadas a cada troca de calçada.

No outro dia, logo cedo, após um cafezinho com meias-de-leite, torradas e pasteis de nata, envoltas no vento frio cheirando a sal, tomamos um táxi na frente da estação até a Ria para pegar o autocarro para continuar a nossa viagem, que fica para o próximo post.

Fique com Deus. 

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